quinta-feira, abril 10, 2008

Lavada a boca com pasta e cotonete: sonhos domésticos


Sobre o que sonhar?

O que há de interessante nas unidades de utilidades domesticas, amuletos hipnotizantes da indústria pós-moderna? O que há de artístico, estético, sentimental em objetos de utilidade do bem-estar familiar? Sob neblinas se instalam essas pertinentes respostas. Porque assim, talvez, seja reflexo da capacidade do ser humano de ser relativo às perguntas que lhe convém indagar e também porque as coisas próprias sejam relativas fazendo um contraponto, numa paradoxal mistura com o sentido humano. É complicado dar nome às vacas sem saber ao certo se são vacas ou não, e se você é leigo a essa espécie, como apontar, como nomear?

Bem, metáforas à parte, o importante é que para muitos existe uma sensibilidade nos objetos domésticos. Mas como sentir tal sensibilidade em algo de utilidade repetitiva, com objetos “sem” cor, objetos sem apelo visual. Pois então que entra a grande roda da pós-modernidade, a interessante interferência da filosofia na arte, não que antes não existisse, porque antigamente, quando as cores tinham mais natureza do que química, a filosofia estava restrita a interferências dentro da arte. Diferente, mas não totalmente, da atual arte que exige e é exigida uma maior interferência da filosofia. A filosofia faz um paralelo com o social, a própria filosofia, a liberdade das coisas, o englobamento da arte com as coisas e assim criamos uma filosofia-arte. Agora a arte está desvinculada dela mesma, ou talvez seja somente um novo modo de ver a arte, mas o que é a arte senão algo que toca e sensibiliza o homem? As obras se estendem além dos quadros, inventam as instalações e o mundo arte-filosofia, filosofia-arte se transforma e continua crescendo.

O projeto. O material reflete nos sonhos.

Talvez um beijo na boca de fogão não seja a coisa mais limpa que você vá encontrar. Além dos desengordurantes podemos provocar criativamente o encontro de dois agentes que nunca se encontram, e não teria porque se encontrar. A boca de fogão recebe as investidas de limpeza de um objeto, para o primeiro, além, isto é, aquela espécie de cotonete ao lado do vaso sanitário, geralmente sujo, mas paradoxalmente de utilitário, o limpador de vasos. Ele limparia a boca do fogão? Talvez no meio cotidiano não, mas quem sabe no querer artístico e filosófico? Outrora, sem graça e repetitivos, elementos se tornam cômico, irônico e ao mesmo tempo de cunho sério. Paradoxal, não acha?

Aos interessantes objetos, porém se vêem à necessidade de um detalhe, uma espécie de cola que iria mantê-los definitivamente coerentes na coexistência dos dois. A boca se encontra em uma metáfora, onde sua nomenclatura dançava com sua chará. À boca humana que constantemente se sujeita um pastoso ácido, para se limpar, “seria um desengordurante?” diz a boca de fogão, mas simplesmente é o que precisamos para fazer essa ligação artística. Fazemos então um paralelo de limpeza, onde há a troca de elementos e os objetos se interferem. A boca de fogão é limpa com o limpador de vasos, com a ajuda da pasta de dente. Formando analogias e encontros cotidianamente desnecessários, mas que artisticamente e filosoficamente fazem sentido.

Um comentário:

Anônimo disse...

Acredito que esse texto consegue mostrar como a arte e o dia-a-dia se misturam bem. São complementos um do outro.
Mas, apenas os artistas conseguem ver e transmitir isso para os "cegos" que não vêem como a vida é arte, em sua simplicidade e complexidade ao mesmo tempo.